terça-feira, 30 de outubro de 2007

A Vespa e as tabelas sagradas

No outro dia, perguntavam num fórum português sobre Vespas, sobre preços de Vespas... Uau, num fórum de Vespas, falar-se sobre Vespas, que originalidade e acto digno de ser notado! Calma, calma, eu explico.

Aquele “post” foi um bocado o retrato do que se passa nesta “cena das Vespas”, nesta moda, nesta onda em que todos querem e gostam muito de Vespas... Se calhar nem sabem bem o porquê, mas isso não importa; se todos os outros gostam, eu também tenho que gostar. Se os outros têm, eu também quero ter.

Perguntavam pelo preço de uma Vespa recém adquirida; quanto valeria. Água vai e retorna do mesmo líquido, chegou-se a umas tabelas de preços de Vespas antigas, porque alguém tinha dito, sarcasticamente, muito sarcasticamente para não ser entendido, que segundo as tais tabelas, a Vespa em questão valeria três mil, novecentos e quarenta e sete euros e vinte e um cêntimos e meio... Com um valor assim tão certinho, relatado cêntimo por cêntimo... eu teria desconfiado. Acho eu...

Inexperiente ou simplesmente um oportunista a sondar o futuro possível mercado para a sua Vespa, o inquiridor foi o alvo da “fúria” de quem já ouviu e ou leu esta pergunta vezes sem conta, de recém proprietários de Vespas, muito amadas e incondicionalmente etiquetadas pelos donos como não vendáveis...

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Tabelas? Mas quais tabelas? Eu estava a ser sarcástico!!!! Muito mesmo!!!!

Então achavas que existiam tabelas com os preços das Vespas produzidas antes do último suspiro da outra senhora. Já agora separados por ano de produção, cor de origem, número de proprietários anteriores, se tem ou não símbolos, se os mesmos são quadrados ou hexagonais ou de que tipologia, se alguma vez caiu ou não e para que lado, combinação do número do motor / chassis e se os números perfazem, por qualquer sequencia matemática ainda a descobrir, os números da besta, se tem documentos ainda de origem, escritos à mão por um senhor diabéticos ou portador de uma qualquer síndrome rara, se, se, se...

Existe isso para carros? Sempre me perguntei, quando ouço alguém perguntar por tabelas de preços, porque seriam as Vespas... diferentes?

E mesmo que existisse (tendo eu a arrogância de estupidamente pensar isso, por um instante que fosse), quem as obrigaria a respeitar? A DGV? O Sócrates? A "brigada de perseguidores de pessoas que vendem Vespas fora dos preços tabelados" da GNR?

Porque é que um vendedor não pode vender aquilo que é seu pelo preço que quiser? Pode ninguém lhe dar aquilo que ele pede; pois pode! Mas ele pode achar que aquilo vale e continuar na sua; claro que sim! E continuar ninguém a comprar. E por aí fora... Porque é que alguém pensa que na vida é tudo tabelado, normalizado, regulamentado e riscos a não pisar? Alguém vive assim? Então... novamente; porque seriam as Vespas... diferentes?

Achei engraçado que a primeira coisa foi “apresentar” a Vespa e, logo a seguir como o som sucede normalmente ao trovão, durante uma trovoada, a pergunta da praxe quanto vale? Para quê? Se mais adiante foi escrito e foi frisado que não é para vender...

Será que é para depois comparar com o que aqui dissermos e achar que fez um excelente negócio? Ou, pelo contrário, penitenciar-se e apregoar aos quatro ventos que o vendedor é um ladrão (como já aqui no referido fórum)? Ou ainda, para mais tarde imprimir estas frases e levar ao comprador que “no fórum oficial do Vespa Clube de Lisboa, quiçá (é mesmo!) o maior clube de Vespas de Portugal, um dos administradores disse que estava Vespa valia 1543,23€ e é por isso mesmo que eu a vou vender por este preço exacto, porque se ele disse”...

A Vespa, em última análise, vale o que vale uma bosta de cavalo! Passo a explicar; para mim, a bosta de cavalo, não vale nada, mas, para um agricultor e juntando mais umas bostas à inicial, valerá alguma coisa, pois pode adubar os campos e obter melhores produções, no futuro. Para mim continua, mesmo o conjunto de bostas, a nada valer. Se o preço da bosta fosse tabelado, passaria a valer alguma coisa para mim? Não creio...

Disse bosta (é pesado o termo, aceito), poderia dizer tomates, alfaces, rabanetes, repolhos ou outras verduras ou bens ou o que fosse! Então... novamente; porque seriam as Vespas... diferentes?

Mesmo supondo que a minha palavra ou de qualquer outro perfeccionista com tendências tabelizadoras fosse lei, era redutor dar um preço a uma Vespa segundo esse método tabelativo. Com que critérios seriam as tabelas feitas? Seriam tantos, para tentar encontrar um preço justo, pesos e medidas equilibradas que a tabela seria uma coisa monstruosamente ilegível de tantas opções existentes. Seria viável? Quem a respeitaria? Novamente, porquê?

Em última análise, a minha Vespa vale o que eu achar, quiser ou me apetecer no momento. Para mim a Vespa não é só um veículo da moda que eu tenho que ter porque o indivíduo in cá do bairro também tem uma e tem sempre à volta, montes de miúdas peitoral e gluteamente bem e apetecivelmente desenvolvidas. É sim um veículo que acarreta consigo todo um conjunto de sentimento, bons (ou maus) momentos, viagens, amigos, histórias, etc, etc. Em ultima análise de partilha de tudo isto! Quem for sentimentalista não vende, quem for consumista, azar, vai tudo em troca de uns euros...

Por mim e de uma vez por todas a Vespa deveria deixar de ser moda! Se fosse eu o tal tabelador, ai, ai, já estava! Não tem lógica fazerem-se certas perguntas, sem se querer ouvir certas (e longas) respostas!

A pergunta do quanto vale uma Vespa, qual a Vespa mais rara, qual o melhor modelo e por aí fora, responde-se fazendo a pergunta de volta à pessoa que a fez, literalmente e se mais acrescentos. Se a pessoa tiver para si que a tal Vespa valerá muito, pois então valerá muito, se achar que pouco valor terá, assim o é!

Há muitos negócios que se fazem, mal (!), porque se viu no fórum X que as Vespas se vendem a 701,12€ no mínimo e, como eu tenho uma Vespa que não quero e até nem anda e estava esquecida na cave, soterrada de tralha, vou vender por esse valor, porque assim estou de acordo com o mercado e não prejudico, nem sou prejudicado. Será assim tão linear? Não existirão por aí muitos oportunistas? Porque é que se veio ao fórum espiolhar os preços para por a Vespa a vender pelo “que se vai praticando”? Será que é aqui que temos a sagrada “tabela” e nem sabemos?

Resumindo: para mim a tua Vespa não vale nada! Não a quero comprar, não a quero para nada e por isso não lhe dou valor! Aqui para o meu vizinho do lado que anda à procura de uma Vespa (porque eu e sou o gajo in cá do bairro e tenho as tais miúdas de desenvolvimento notável, sempre à minha volta – NOT!) valerá qualquer coisa, mas, como este meu vizinho não é parvo e é teso que nem um bacalhau de Vespa ressequido, vale pouco.

Por outro lado, tenho um amigo que já tem algumas Vespas, mas quer mais umas. Gosta daquilo... Com ele é meio tolo e não lhe falta dinheiro, vale mais alguma coisa...

Olha, tens aqui os emails deles, pergunta-lhes directamente: josé-almeida-rodrigues@gmail.com e boy34ever_mod@hotmail.com. Vai estendendo o teu inquérito, fazes as médias e terás o valor de “tabela” para a tua Vespa. Ah, não te esqueças de lhes dar os pormenores todos e mais alguns, para que não saias prejudicado do hipotético negócio.

Imagina tu por exemplo, que se descobria, investigando nas caves da ex-DGV que a tua Vespa tinha pertencido ao D. Duarte Pio, duque de Bragança (a ideia não é original e já muitos acreditaram), que serviu de transporte ao Papa quando veio a Portugal e que, no 25 de Abril andou a distribuir cravos vermelhos para que a população as fosse colocar nos canos das metralhadoras... Já viste o tesouro que estavas a perder? E o mau negócio que seria vender uma Vespa dessas, pelo preço das tabelas...

Não me alongo mais. Não levando a peito o que eu disse, generalizando a muitos comentários e questões semelhantes que já ouvi, não particularizando ao autor deste post em específico acho que já disse tudo.


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E ficou tudo dito!

Por breves instantes, porque o post foi retirado pelo autor...

1 "bitaites"

Vespista disse...

Fazia todo o sentido a existência de uma tabela com valores base. Visto tratar-se de um clássico, poderia ser criada à semelhança do que se fez com os automóveis. E não nem nada a ver com o que vale para cada um, nem com a história da mota. Eram valores criados com base no mercado dos veículos clássicos, oferta/procura, exclusividade e estado de conservação. Pelo menos sempre ajudava algumas pessoas a perceberem o quanto vale aquilo que têm e a estabilizar esta febre de Vespas...