quinta-feira, 14 de agosto de 2014

60 anos



Foi a 14 de Agosto de 1954 que o Vespa Clube de Lisboa foi fundado.

Assentou a primeira sede na Praça do Marquês do Pombal, nº15.

Os primeiros estatutos datam de 1955. Foram discutidos e aprovados em Assembleia Geral realizada a 10 de Janeiro e redigidos a 15 de Fevereiro.

O Alvará nº9/1955 foi-lhe atribuído, pelo Governo Civil de Lisboa a 17 de Março do mesmo ano.

Nesses tempos, os sócios efectivos e auxiliares tinham quotas, estabelecidas estatutariamente, de 10$00 e 5$00 mensais, respectivamente.

Por tudo isto e muito, muito mais que cabem nos seus repletos 60 anos de existência, podemos considerar o Vespa Clube de Lisboa o avô de todos os clubes. Nenhum outro em Portugal tem uma idade sequer aproximada. Se calhar poucos no mundo.

Poucos terão momentos tão altos como o Lisboa - Faro em Vespa em 1955, a criação do Iberovespa em 1995, o Eurovespa em 2004, entre tantos, tantos outros momentos que "se esquecem" nos arquivos e nas memórias dos sócios que há mais tempo acompanham o seu clube. Histórias que alguns de nós já ouvimos sem as saber reproduzir correctamente: as passagens de ano na sede, as viagens aos Vespa Clubes estrangeiros com grande representação, as bases para o surgimento do Vespa Clube de Portugal, etc, etc, etc e etc.

É por tudo isto que, acredito, a direcção do Vespa Clube de Lisboa decidiu incluir, nos festejos deste 60º aniversário, uma tertúlia. Porque a história é bem comum, de todos os sócios, amigos e simpatizantes.

Se têm uma Vespa juntem-se, filiem-se, participem. Festejem. A vida, a Vespa e o Clube.

60 anos só se fazem uma vez!

Parabéns ao Vespa Clube de Lisboa!

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Divórcio: pessoas, mobilidade e espaços urbanos

Todas as linhas que se seguem são meros pensamentos. E por tal, podem não fazer qualquer sentido ou exprimir validamente a realidade vivida por outras pessoas. Todos são livres de as ler e comentar, discordar, insultar ou aplaudir. Desde já agradeço.

A evolução dos meios urbanos faz-se exclusivamente à custa de pessoas. Sejam habitantes, visitantes ou de passagem para outros destinos. Depois, conforme a interacção e a sedução que os tecidos urbanos exercem nos indivíduos, estes fixam-se, alargando e fazendo crescer esse urbanismo. De aldeia passa-se a vila, de vila a cidade, de cidade em metrópoles, por cá as áreas metropolitanas. E esta é uma relacção simbiótica: as pessoas ganham em conforto, proximidade, quantidade de tudo e tudo e os tecidos urbanos em dimensão, expansão, mão-de-obra, etc.

Alterar esta equação é encher mais um dos pratos da balança e colocar em risco todo este equilíbrio, toda esta interacção win - win.

Desde há uns anos a esta parte que todos aqueles que habitam em cidades e vilas de alguma dimensão têm sentido esse desequilíbrio, mais pronunciado com a maior dimensão do urbanismo. E onde quero chegar: reduziram-se lugares de estacionamento, os que ficaram tornaram-se pagos, os que foram criados sob a forma de parques subterrâneos, sempre se pagaram. Numa caça ao automóvel, essa peste!

antigo parque de estacionamento na Praça do ComércioAntigo parque de estacionamento na Praça do Comércio.
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Bem sei que as condições e facilidade de aquisição e quantidades de automóveis mais que duplicaram se compararmos o período compreendido entre os 80's e os dias de hoje e sim tinham que ser tomadas medidas de gestão e racionalização do mesmo espaço urbano para o aumento de veículos que o utilizam. Mas escorraçá-los completamente, penso e eu nem sou utilizador diário de automóvel, é um erro.

Semear parquímetros a eito, em zonas de estacionamento gratuito e perto de transportes públicos, criar ZER com o pretexto de reduzir emissões poluentes (que continuam a subir na zona Marquês de Pombal - Av. da Liberdade - Baixa / Chiado!), mandar a polícia municipal "varrer" tudo o que é beco à procura de veículos "mal" estacionados, colocar mais inspectores da EMEL nas ruas, não torna Lisboa mais apetecível, ordenada e ordeira. Veja-se o que aconteceu com a área comercial da Baixa lisboeta com o acabar com o parque de estacionamento da Praça do Comércio (sim, muito feio numa das praças mais imponentes de Lisboa mas as pessoas iam para lá e, na "minha altura", já se pagava o parque à CML), com as proibições de circulação, com o aumento de faixas de BUS e ciclovias, roubando o espaço de circulação aos automóveis.

Este é um espaço dedicado maioritariamente a veículos de duas rodas. E neste texto até parece que os estou a atacar. Mas não! Estou a defender que tudo e todos interajam saudavelmente no espaço que cresceu com eles. Com as pessoas que os utilizam, diária ou esporadicamente para se deslocar de e para o trabalho ou simplesmente por lazer, para visitar, ir às compras, passear.

Defendo que para tudo e todos existe uma racionalidade, um equilíbrio, uma convivência possível e saudável, um tempo e um espaço.

Popular ciclovias, não vai por si só fazer as pessoas andar mais de bicicleta. Pintar mais faixas de BUS, não vai fazer ninguém adoptar os transportes públicos. Criar zonas de estacionamento pago isoladamente, não o vai ordenar, nem impedir que os automóveis entrem na cidade.

Os troços dispersos de ciclovias, sem ligação entre si ou com os transportes públicos que ainda proíbem as bicicletas em hora de ponta, não as vão encher de pernas e pedais. O fim dos passes sociais e / ou o aumento do preço dos mesmos, contraria mais a sua utilização de transportes públicos do que fomenta o crescimento do número de faixas de BUS. Nem colocação de parquímetros ou criação de parques de estacionamento pagos em zonas outrora utilizadas para estacionar gratuitamente automóveis de utentes de transportes públicos.

espaço de estacionamento com parquímetro vazio em São Domingos de BenficaEspaço de estacionamento com parquímetro completamente vazio, em São Domingos de Benfica. Perto da estação do metropolitano do Alto dos Moinhos, antes dos parquímetros, havia sempre alguns automóveis aqui estacionados.


Tudo isto para mim parece-me oportunismo. Para ganhar mais uns trocos, com os parques pagos e o bloqueio e reboque de automóveis. Para embarcar na euforia verde expressa nas letras brancas a caixa alta que nos alertam: BUS. Para cavalgar na onda que agora "força" bicicletas em tudo o que espaço, publicidade ou coisa cool, coisa que já aconteceu com scooters clássicas e Vespas que, nos anos 90, triplicaram o seu preço. Eram fixes.

A questão é que o que se construir hoje ou resulta amanhã e depois ou vai ter que ser convertido e repensado, refeito, revisto ou eliminado. O planeamento e ordenamento e racionalismo há muito que foram abandonados. E é disso que eu falo. Faz-se e logo se vê. Não deu, paciência, fazemos outra coisa qualquer.

Os números exagerados de exemplares automóveis por família obviamente que não cabem todos nas cidades e vilas. Não quero isso e mesmo que, depois de terem lido isto tudo ainda há quem ache que o estou a defender: não dá, é espacialmente é impossível e não quero.

Tentou-se uma abordagem. Parece-me que não funcionou. Retirar os automóveis ajudou à desertificação dos centros urbanos. O comércio tradicional também aí, não sendo isto o factor úncio, em muitos casos, fechou. A dificuldade sentida no movimento de pessoas no seu dia-a-dia dentro do espaço urbano aumentou. Bem como o custo do mesmo e o tempo perdido em filas de trânsito, semáforos, rotundas ou outros. E a justificação não é, para quem circula nestes espaços no dia-a-dia, exclusivamente o aumento do número de veículos.

O saudável é educar. Informar. Cooperar. Encontrar compromissos e soluções. Saber conviver com a diferença e propor alternativas. Comportar as limitações, perder e ganhar. Conviver. E o que se tem feito é obrigar; queres estacionar, pagas. Queres circular, ou tens um automóvel novo ou vens fora de horas. Não queres, utiliza os transportes públicos.

Saudável é pensar para fazer e, dentro do possível, deixar escolher.

Viver, circular. Sair para amanhã voltar a entrar.

Acima de tudo, respeitar.