Sobre os parquímetros (não me alongando muito)
Quê mas as motos já pagam parquímetro?!! Calma, calma, isto é sobre parquímetros mas as motos ainda não pagam. Ainda.
E ainda porque no início dos parquímetros foram afectados os centros urbanos das (grandes) cidades para que o ordenamento do pouco estacionamento existente pudesse ser feito. Ou tentado. Com a sempre omnipresente assumpção do “utilizador pagador” e com a dissuasão que se esperava com este sistema. Afinal, pensava-se, muitos dos automóveis que por ali parqueavam não precisavam de ali estar, eram luxos supérfluos de quem queria utilizar o automóvel no dia-a-dia.
Veio-o a provar que não. Os automóveis, mesmo a pagar, continuaram por ali. O estacionamento, nalgumas artérias, piorou porque alguns veículos que estacionavam apenas para recados rápidos dos seus donos, passaram a ser estacionados em segunda ou terceiras filas, prejudicando ainda mais o tráfego já de si lento e engarrafado dos centros urbanos.
Crédito Pedro Catarino/Correio da Manhã
Mas creio que o factor dissuasor de “levar o carro para a porta de onde quero ir só porque não o posso levar lá para dentro mesmo” até assumo que funcionou e com o tempo os hábitos alteraram-se e já todos mais ou menos interiorizamos que não podemos levar o carro e foram-se arranjando alternativas e, nas maiores caminhadas entre estacionamento gratuito e centros urbanos, até fomos ficando a conhecer ruas e percursos que doutro modo nunca conheceríamos.
Á distância de uns anos, confesso, fui inicialmente céptico mas, nos centros urbanos e a esta data, reconheço os benefícios destas medidas.
A questão passa a menos entusiasmante quando, assumindo o que disse em cima, se percebe facilmente que muitas vezes se tem que recorrer aos transportes públicos ou outros. E por tal, é necessário a nossa deslocação de automóvel até à periferia dos centros para que possamos depois apanhar os transportes. E é aqui que começamos a perceber a falácia do ordenamento do estacionamento e do favorecimento da utilização dos transportes públicos em detrimento do veículo privado.
Não é aceitável que nas periferias surjam também parquímetros. Não é compreensível que para se apanhar um transporte para os centros – que funcionam mal e são caros, mas isso daria matéria para outro texto – seja tenha que pagar ainda o parque. E depois o transporte, ida e volta. Não é compreensível.
Sabemos que muita da expansão urbana do nosso país se compõe de grandes centros urbanos nas periferias das cidades. Não, nem falo dos centros. Por exemplo, Lisboa, muitas das pessoas que diariamente se deslocam para os seus trabalhos, vivem nos Concelhos da margem sul – Almada, Seixal, Barreiro, etc, ou nos de Oeiras, Cascais, Sintra, etc, etc, etc. E sabemos também que muitos dos transportes que operam na cidade não chegam a essas periferias.
A solução dessas pessoas passa por apanhar vários transportes para aí chegar – e aumentar de alguns minutos para horas e percurso que têm que fazer todos os dias! – ou deslocar-se no seu veículo para que possam suprir alguns dos transportes que têm que apanhar e desse modo “acelerar” o seu percurso. Ora se os parquímetros são alargados cega e ineficazmente até onde essas pessoas deixavam os carros...
As pessoas perdem qualidade de vida, aumentam o tempo de viagem e o stress de saltar de transporte público em transporte público, correr para apanhar um porque o outro só vem dali a não sei quantos minutos e tenho que ir buscar as crianças à escola e ainda passar no supermercado...
E os parquímetros que aí são colocados fomentam as ruas vazias de carros onde outrora estariam os automóveis de quem ia apanhar os transportes. Provam por si só o desajuste da sua colocação e o desastre na amortização do investimento feito na sua colocação. Mais, provam a avidez de quem os coloca e o desfasamento que têm da realidade que julgam dourada porque todos, acham, podem como eles ter carros de serviço e lugares de garagem concedidos pelas empresas onde ocupam cargos de direcção.
Fonte Emel
É pena. Eu, não sendo um utilizador diário de um automóvel, acho triste e sinto-me incomodado com esta cegueira, com esta indiferença, com este desprezo pelo tempo pessoal que cada um poderia reservar para si e para as suas famílias. Não é só o dinheiro não, é a qualidade de vida que está em causa.
Com tudo isto, quem sai a ganhar são as motos. Maioritariamente as scooter pelo seu caracter mais citadino. Nas zonas onde vão sendo criados as zonas fantasma de estacionamento pago, nota-se um aumento de pessoas que adoptam estes veículos diariamente. Originando outro constrangimento: apesar de terem aumentado os parques para motos, os mesmos, em certas zonas, já não conseguem dar resposta a este aumento de veículos de duas rodas. “Procurem outro que esteja próximo”, dizem-nos mas o que acontece muito mais vezes é um estacionamento em cima dos passeios, depois de dois ou três parques próximos igualmente cheios.
Já em tempos escrevi sobre mais ou menos esta temática.
As cidades precisam de pessoas. Com a evolução – podemos sempre questionar o seu rumo – as pessoas andam mais de automóvel. Têm mais automóveis, usam-nos mais e há um rácio maior de veículos por família. Tantas vezes porque o investimento em transportes públicos ou outras alternativas não tem tanto empenho como o crescimento e investimento nas zonas de estacionamento pagas.
Nestes anos e com o surgimentos das zonas pagas e parquímetros, deveriam em paralelo ou previamente, ter sido feitos parques GRATUITOS nas periferias e nas interligações com os transportes públicos e antes do alargamento dos parquímetros, para que, com a justiça da existência de uma verdadeira possibilidade de escolha, os que quisessem continuassem a levar os seus automóveis para os centros e os que não quisessem ou não pudessem, os pudessem aí deixar.
Uma cidade só o é se as pessoas a fizerem. Dificultar e bloquear o acesso das pessoas indirectamente aos seus centros... valham os turistas para os encherem e continuarmos com a sensação de cidades vivas e vibrantes. E valham os trabalhadores que têm que obrigatória e diariamente se deslocar para os mesmos. Pagando ou não, perdendo ou não qualidade de vida.
E ainda porque no início dos parquímetros foram afectados os centros urbanos das (grandes) cidades para que o ordenamento do pouco estacionamento existente pudesse ser feito. Ou tentado. Com a sempre omnipresente assumpção do “utilizador pagador” e com a dissuasão que se esperava com este sistema. Afinal, pensava-se, muitos dos automóveis que por ali parqueavam não precisavam de ali estar, eram luxos supérfluos de quem queria utilizar o automóvel no dia-a-dia.
Veio-o a provar que não. Os automóveis, mesmo a pagar, continuaram por ali. O estacionamento, nalgumas artérias, piorou porque alguns veículos que estacionavam apenas para recados rápidos dos seus donos, passaram a ser estacionados em segunda ou terceiras filas, prejudicando ainda mais o tráfego já de si lento e engarrafado dos centros urbanos.
Mas creio que o factor dissuasor de “levar o carro para a porta de onde quero ir só porque não o posso levar lá para dentro mesmo” até assumo que funcionou e com o tempo os hábitos alteraram-se e já todos mais ou menos interiorizamos que não podemos levar o carro e foram-se arranjando alternativas e, nas maiores caminhadas entre estacionamento gratuito e centros urbanos, até fomos ficando a conhecer ruas e percursos que doutro modo nunca conheceríamos.
Á distância de uns anos, confesso, fui inicialmente céptico mas, nos centros urbanos e a esta data, reconheço os benefícios destas medidas.
A questão passa a menos entusiasmante quando, assumindo o que disse em cima, se percebe facilmente que muitas vezes se tem que recorrer aos transportes públicos ou outros. E por tal, é necessário a nossa deslocação de automóvel até à periferia dos centros para que possamos depois apanhar os transportes. E é aqui que começamos a perceber a falácia do ordenamento do estacionamento e do favorecimento da utilização dos transportes públicos em detrimento do veículo privado.
Não é aceitável que nas periferias surjam também parquímetros. Não é compreensível que para se apanhar um transporte para os centros – que funcionam mal e são caros, mas isso daria matéria para outro texto – seja tenha que pagar ainda o parque. E depois o transporte, ida e volta. Não é compreensível.
Sabemos que muita da expansão urbana do nosso país se compõe de grandes centros urbanos nas periferias das cidades. Não, nem falo dos centros. Por exemplo, Lisboa, muitas das pessoas que diariamente se deslocam para os seus trabalhos, vivem nos Concelhos da margem sul – Almada, Seixal, Barreiro, etc, ou nos de Oeiras, Cascais, Sintra, etc, etc, etc. E sabemos também que muitos dos transportes que operam na cidade não chegam a essas periferias.
A solução dessas pessoas passa por apanhar vários transportes para aí chegar – e aumentar de alguns minutos para horas e percurso que têm que fazer todos os dias! – ou deslocar-se no seu veículo para que possam suprir alguns dos transportes que têm que apanhar e desse modo “acelerar” o seu percurso. Ora se os parquímetros são alargados cega e ineficazmente até onde essas pessoas deixavam os carros...
As pessoas perdem qualidade de vida, aumentam o tempo de viagem e o stress de saltar de transporte público em transporte público, correr para apanhar um porque o outro só vem dali a não sei quantos minutos e tenho que ir buscar as crianças à escola e ainda passar no supermercado...
E os parquímetros que aí são colocados fomentam as ruas vazias de carros onde outrora estariam os automóveis de quem ia apanhar os transportes. Provam por si só o desajuste da sua colocação e o desastre na amortização do investimento feito na sua colocação. Mais, provam a avidez de quem os coloca e o desfasamento que têm da realidade que julgam dourada porque todos, acham, podem como eles ter carros de serviço e lugares de garagem concedidos pelas empresas onde ocupam cargos de direcção.
É pena. Eu, não sendo um utilizador diário de um automóvel, acho triste e sinto-me incomodado com esta cegueira, com esta indiferença, com este desprezo pelo tempo pessoal que cada um poderia reservar para si e para as suas famílias. Não é só o dinheiro não, é a qualidade de vida que está em causa.
Com tudo isto, quem sai a ganhar são as motos. Maioritariamente as scooter pelo seu caracter mais citadino. Nas zonas onde vão sendo criados as zonas fantasma de estacionamento pago, nota-se um aumento de pessoas que adoptam estes veículos diariamente. Originando outro constrangimento: apesar de terem aumentado os parques para motos, os mesmos, em certas zonas, já não conseguem dar resposta a este aumento de veículos de duas rodas. “Procurem outro que esteja próximo”, dizem-nos mas o que acontece muito mais vezes é um estacionamento em cima dos passeios, depois de dois ou três parques próximos igualmente cheios.
Já em tempos escrevi sobre mais ou menos esta temática.
As cidades precisam de pessoas. Com a evolução – podemos sempre questionar o seu rumo – as pessoas andam mais de automóvel. Têm mais automóveis, usam-nos mais e há um rácio maior de veículos por família. Tantas vezes porque o investimento em transportes públicos ou outras alternativas não tem tanto empenho como o crescimento e investimento nas zonas de estacionamento pagas.
Nestes anos e com o surgimentos das zonas pagas e parquímetros, deveriam em paralelo ou previamente, ter sido feitos parques GRATUITOS nas periferias e nas interligações com os transportes públicos e antes do alargamento dos parquímetros, para que, com a justiça da existência de uma verdadeira possibilidade de escolha, os que quisessem continuassem a levar os seus automóveis para os centros e os que não quisessem ou não pudessem, os pudessem aí deixar.
Uma cidade só o é se as pessoas a fizerem. Dificultar e bloquear o acesso das pessoas indirectamente aos seus centros... valham os turistas para os encherem e continuarmos com a sensação de cidades vivas e vibrantes. E valham os trabalhadores que têm que obrigatória e diariamente se deslocar para os mesmos. Pagando ou não, perdendo ou não qualidade de vida.
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